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NA PRIMEIRA SEMANA DA COP30, EM BELÉM, TENSÕES ENTRE OS 197 PAÍSES EXPÕEM INTERESSES CONFLITANTES
Por Enrique Brazil
Publicado em 17/11/2025 09:22
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A primeira semana da COP30, em Belém, evidenciou tensões e agendas distintas entre os 197 países signatários da convenção climática da ONU. A fase “política” do encontro deve ser dominada por três temas: financiamento climático, adaptação e a proposta de um roadmap para eliminar os combustíveis fósseis.

Financiamento em disputa
O debate central segue sendo quem pagará a conta do aquecimento global. Sem os EUA, a resistência recai principalmente sobre a União Europeia e países como China e Arábia Saudita, que evitam compor uma base maior de doadores.

Prioridade brasileira
O Pacote de Adaptação é foco da presidência brasileira. Há textos em negociação, e o Itamaraty tenta evitar atritos com países africanos, que exigem mais recursos. Na COP29, foram definidos apenas US$ 300 bilhões para adaptação. Agora, o G77 — mais de 100 países, incluindo a China — quer triplicar o valor e discutir o peso entre doações e empréstimos baratos.

A COP30 não tem mandato formal para fechar essa conta, mas africanos pressionam, inclusive via debates sobre NDCs. Pequenas ilhas pedem metas mais ambiciosas. Também seguem em consulta medidas unilaterais de comércio e revisão dos relatórios bienais de transparência.

Financiamento e o Artigo 9.1
Outro ponto sensível envolve o artigo 9.1 do Acordo de Paris, que determina que países desenvolvidos liderem o financiamento climático. O Brasil tenta mediar o impasse, que observadores classificam como uma “sessão de terapia coletiva”.

African countries querem atrelar financiamento às Metas Globais de Adaptação, afirmando que só podem adotar indicadores se houver recursos garantidos. A UE resiste; China, Índia e países árabes rejeitam assumir responsabilidades maiores. Isso divide o bloco do G77: enquanto latino-americanos e pequenas ilhas querem acordos já em Belém, africanos — que sediarão a COP em dois anos — parecem querer prolongar o debate.

Combustíveis fósseis
Sem os EUA, países dependentes do petróleo perderam força, mas a Arábia Saudita ainda pode dificultar o roadmap de eliminação dos combustíveis fósseis, apoiado por Lula. Mais de 20 países, entre eles Alemanha e Reino Unido, já aderiram à proposta, vista como o início de uma nova coalizão.

Leque de posições
Na mesa, blocos apresentam ambições divergentes. O Umbrella Group frequentemente confronta países vulneráveis que compõem a High Ambition Coalition, criada pelas Ilhas Marshall. Já os Like-Minded Developing Countries — que reúnem China, Índia, Indonésia, Egito, Arábia Saudita e outros — resistem à transição energética.

UE e grandes emergentes, como China e Índia, disputam a conta do aquecimento global. Representantes do G77 defendem indicadores voluntários e autonomia nas estratégias de adaptação, enquanto europeus pedem mais compromisso financeiro.

 

Após a primeira semana, a COP30 reproduz seus impasses históricos — com o financiamento no centro das disputas e negociações que exigem paciência.

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