O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a redução de tarifas sobre a importação de carne bovina, tomate, café e banana, em uma tentativa de conter a inflação dos alimentos após o tarifaço aplicado no início do ano. A decisão integra um documento divulgado pela Casa Branca que lista centenas de produtos beneficiados.
A medida tende a favorecer grandes exportadores de commodities, entre eles o Brasil, líder mundial em café e segundo maior produtor de carne bovina — atrás apenas dos próprios EUA, segundo o USDA (Departamento de Agricultura dos EUA).
Apesar disso, o decreto assinado por Trump na sexta-feira (14) altera apenas a alíquota de 10% das chamadas “tarifas recíprocas”, impostas em abril a todos os países. A sobretaxa de 40% aplicada exclusivamente ao Brasil permanece em vigor.
Segundo o governo americano, a revisão faz parte de uma estratégia de segurança nacional que sustenta a política tarifária de Trump, focada no combate ao que ele classifica como “déficits comerciais persistentes”. A decisão também segue recomendações de autoridades responsáveis por monitorar o estado de emergência nacional decretado no início do ano.
“Determinei que é necessário e apropriado modificar o escopo dos produtos sujeitos à tarifa recíproca”, afirma Trump na ordem executiva. Logo depois, durante voo no Air Force One, o presidente indicou que novos recuos tarifários não estão previstos. “Os preços do café estavam um pouco altos; agora devem cair rapidamente”, disse.
Impacto no café e na carne
Em 2024, o Brasil exportou US$ 1,96 bilhão em café aos EUA, consolidando-se como maior fornecedor. Porém, após a entrada em vigor das tarifas de 50% em agosto, as vendas despencaram. Em outubro, a queda foi de 54,4% na comparação anual, segundo o Cecafé. Nos EUA, o café acumula alta de cerca de 20% no CPI (índice oficial de inflação).
O mercado de carne bovina também enfrenta forte pressão: a inflação anual varia entre 12% e 18%. A combinação da sobretaxa sobre o Brasil — maior exportador global — e a redução do rebanho americano tem elevado os preços. A Abiec considerou a medida positiva e afirmou que ela reforça a confiança no diálogo técnico entre os países e o reconhecimento da qualidade da carne brasileira.
Para as empresas exportadoras, contudo, o alívio foi limitado. O presidente-executivo da AEB, José Augusto de Castro, classificou a redução como “tímida” e destacou que as expectativas criadas após o encontro entre Lula e Trump não se concretizaram. “Esperavam-se medidas mais robustas. Nenhum produto manufaturado foi contemplado, apenas itens de consumo e do agro”, afirmou.
Análise e cenário regional
A especialista em contabilidade internacional Fernanda Spanner avalia que os EUA adotam uma estratégia de longo prazo para reduzir riscos e fortalecer cadeias de suprimentos, diminuindo dependências — especialmente em relação à China — e ampliando presença na América Latina.
De acordo com Washington, novos acordos com países latino-americanos devem ser concluídos nas próximas semanas e deverão abrir mercado para produtos agrícolas e industriais americanos. A Casa Branca informou ainda que as tarifas gerais de 10% sobre produtos da Argentina, El Salvador e Guatemala, assim como as de 15% sobre itens do Equador, serão mantidas, embora haja redução para um conjunto específico de mercadorias. Esses países se comprometeram a não taxar serviços digitais de big techs.